Neutrinos observados por cientistas europeus teriam quebrado limite cósmico de velocidade proposto por Einstein
Diferença foi de apenas 60 bilionésimos de segundo; comunidade de físicos recebeu o dado com cautela
Diferença foi de apenas 60 bilionésimos de segundo; comunidade de físicos recebeu o dado com cautela
Por Reinaldo José Lopes
O Universo não é uma rodovia, mas estabelece um limite de velocidade que nada nem ninguém consegue violar: o da luz. Nada, a não ser partículas "fantasmagóricas" cuja jornada pode ter revolucionado a física.
As partículas são chamadas de neutrinos e foram observadas levando a "multa" cósmica por excesso de velocidade no Laboratório Nacional Gran Sasso, na Itália.
Num experimento bolado por cientistas europeus, esses neutrinos são lançados do Cern (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear), que fica na fronteira entre a Suíça e a França, rumo ao laboratório italiano, percorrendo uma distância de 730 km por baixo da terra.
Acontece que, segundo a equipe do físico Antonio Ereditato, as partículas concluíram sua jornada 60 nanossegundos (bilionésimos de segundo) antes do que deveriam caso a velocidade da luz tivesse sido respeitada. "Ficamos chocados", disse Ereditato à revista "Nature".
Se o experimento estiver certo, cai por terra uma das ideias fundamentais do físico alemão Albert Einstein (1879-1955), justamente o responsável por consolidar a ideia de que nada no Cosmos seria capaz de viajar mais rápido do que a luz.
COBRANDO A MULTA
Einstein demonstrou, entre outras coisas, que o Universo cobra a multa por excesso de velocidade fazendo com que a massa (o que se chama popularmente de "peso") de um objeto pareça ficar cada vez maior conforme ele se aproxima da velocidade típica da luz no vácuo.
Isso faz com que se torne mais e mais difícil acelerar o objeto apressadinho. Quando chega muito perto da velocidade-limite, fica tão "gordo" que a aceleração deixa de ocorrer e ele nunca se torna mais rápido que a luz.
Se os neutrinos realmente estão quebrando essa regra, será mais um item no arsenal de esquisitices dessas partículas. Eletricamente neutras (daí o nome), elas também são "fantasmagóricas" porque quase não interagem com a matéria. Mais de 60 bilhões deles, vindos do Sol, atravessam cada centímetro quadrado do seu corpo por segundo.
"Vários fenômenos estranhos, não previstos pelo Modelo Padrão [a versão mais aceita da física de partículas], têm sido observados com os neutrinos", lembra João dos Anjos, pesquisador do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) que estuda as partículas. Ele disse não conhecer o trabalho de Ereditato.
Por enquanto, a reação da comunidade científica é de cautela. Não é a primeira vez que neutrinos parecem romper a barreira teorizada por Albert Einstein, mas a coisa nunca foi confirmada.
E as observações consideradas o padrão-ouro da área, que envolveram o monitoramento dos neutrinos "cuspidos" por uma estrela que explodiu e foi vista da Terra em 1987, não são consistentes com a anomalia.
Ereditato e companhia, no entanto, dizem-se confiantes. Outros pesquisadores tentarão confirmar o fenômeno.
Fonte: Folha de São Paulo
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