segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Para ler o pós-11 de setembro



Em meio ao anúncio da morte de Osama Bin Laden e ao marco de uma década desde os atentados ao World Trade Center, a Boitempo Editorial reimprime duas das principais leituras críticas sobre o mundo globalizado pós-11 de setembro. Bem-vindo ao deserto do real (2003), do filósofo esloveno Slavoj Žižek, e Estado de exceção (2004) do filósofo italiano Giorgio Agamben, são dois polêmicos títulos da Coleção Estado de Sítio, coordenada por Paulo Arantes, que trata de temas centrais do nosso tempo: o crescente autoritarismo do Estado, o terrorismo, o fundamentalismo, o império, as relações da televisão e do cinema com o poder, a guerra e os conflitos globais.


Em Bem-vindo ao deserto do Real!,Žižek usa a provocativa frase “Com essa esquerda, quem precisa de direita?” para comentar a atuação da esquerda no período posterior aos atentados de 2001. Atuação essa que permitiu que a ideologia hegemônica se apropriasse da tragédia e impusesse sua mensagem de que é preciso escolher um lado na “guerra contra o terrorismo”. Para o autor, a tentação de escolher um dos lados deve ser evitada. Segundo Žižek, quando as escolhas parecem muito claras, a ideologia se encontra em seu estado mais puro, obscurecendo as verdadeiras opções. A “democracia liberal” não é a alternativa ao “fundamentalismo” muçulmano, coloca. O filósofo esloveno vem ao Brasil no fim de maio para apresentar conferência em São Paulo e no Rio de Janeiro.


O filósofo italiano Giorgio Agamben estuda em Estado de Exceção a contraditória figura dos momentos antes “extraordinários” – de emergência, sítio, guerras – onde o Estado usa de dispositivos legais justamente para suprimir os limites da sua atuação, a própria legalidade e os direitos dos cidadãos. Segundo o autor, “o estado de exceção apresenta-se como a forma legal daquilo que não pode ter forma legal”. Um poder além de regulamentações e controle, que, para Agamben, hoje não é mais excepcional, mas o padrão de atuação dos Estados. Obra fundamental para entender o Estado e a política contemporânea, o livro expõe as áreas mais obscuras do direito e da democracia. Justamente as que legitimam a violência, a arbitrariedade e a suspensão dos direitos, em nome da segurança, a serviço da concentração de poder.


Com o retorno dos títulos às livrarias, a reflexão sobre os acontecimentos do início do século XXI se enriquece: com a reafirmação do medo pelos Estados frente à “possibilidade de retaliações terroristas” e a glorificação cinematográfica do poder norte-americano por parte da mídia, faz-se necessário ultrapassar a análise circunstancial do fato para buscar o cerne dos impasses de nosso tempo.

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